A Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS) sediou em Campo Grande mesa redonda para debater a necessidade de eliminar as restrições associadas ao uso do Gás Liquefeito de Petróleo (GLP), mais conhecido como gás de cozinha. Conduzida pelo deputado federal Beto Pereira (PSDB-MS), membro titular da comissão, representantes da área puderam expor as possibilidades econômicas que o gás garante ao Brasil.
O evento contou com a presença e colaboração de diversos setores, incluindo representantes do Ministério de Minas e Energia por meio da Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), o Sindicato Nacional das Empresas Distribuidoras de Gás Liquefeito de Petróleo (Sindigás), o Governo de Mato Grosso do Sul através da Coordenação de Energias Renováveis da Secretaria de Meio Ambiente, Desenvolvimento, Ciência, Tecnologia e Inovação do MS, a própria universidade e empresários do setor.
Beto destacou a importância do avanço do GLP no país e a necessidade de explorar outras opções energéticas em Mato Grosso do Sul. “Estamos tendo a oportunidade de reunir todos os atores do segmento e discutir junto com o setor sindical. É um tema de extrema relevância e acredito estar maduro para avançarmos em nosso país”, afirmou o parlamentar.
Beto ressaltou o projeto da UFMS em parceria com Copa Energia, iniciado em 2019, que envolve a implementação de um laboratório de monitoramento e gerenciamento da qualidade da operação da Copagás, importadora de GLP da Bolívia para comercialização no Brasil.
Esse projeto deu origem a novas iniciativas de desenvolvimento em diversas áreas, incluindo a aplicação do GLP como recurso energético de suporte a instalações hospitalares, a autorização para o uso do GLP na geração de energia e como recurso energético na piscicultura.
Além disso, Beto reiterou a preocupação do governo de Mato Grosso do Sul com a sustentabilidade e destacou que os resultados das pesquisas indicaram uma maior competitividade para os pequenos produtores, a geração de renda para a agricultura familiar e uma baixa emissão de poluentes. Esses resultados são particularmente significativos para o Estado, cuja economia está fortemente ligada ao agronegócio.
O reitor da UFMS, Marcelo Augusto Santos Turine, enfatizou a relevância do GLP durante a pandemia da COVID-19, especialmente em seu emprego no Hospital Universitário Maria Aparecida Pedrossian (Humap-UFMS). Ele destacou que a transformação da matriz energética do Brasil é um processo que se dá por meio da ciência e da educação.
“Durante a crise sanitária da COVID-19 em 2020, implementamos rapidamente um modelo para o Hospital Universitário em apenas 15 dias, visando a utilização do gás na área da Saúde. Assim, estabelecemos uma estrutura para auxiliar o hospital, que estava sobrecarregado, adotando um modelo de teste em parceria com a ANP, o qual evoluiu para um projeto-piloto e foi concluído com sucesso. É crucial buscarmos soluções e adotar legislações flexíveis que possam acompanhar a inovação mundial”, declarou Turine.
A coordenadora de Energias Renováveis da Secretaria de Meio Ambiente, Desenvolvimento, Ciência, Tecnologia e Inovação de Mato Grosso do Sul (Semadesc), Mamiule de Siqueira, ressalta a importância de ampliar a gama de fontes energéticas, priorizando aquelas com baixa emissão de carbono.
“Seguindo essa diretriz, Mato Grosso do Sul almeja tornar-se o primeiro estado verde até 2030. A presença ativa da universidade e dos setores envolvidos demonstra que a ciência verdadeiramente está contribuindo para nos auxiliar na transição energética e na construção de um futuro de qualidade de vida melhor”, expressou Mamiule.
Setor valoriza o uso GLP como energia renovável
No debate, que contou com representantes de diversos setores, o presidente do Sindigás, Sergio Bandeira de Mello, destacou a necessidade de simplificar as leis que restringem o uso do GLP. Ele mencionou a importância de impulsionar projetos de lei na Câmara e discutir as restrições em regiões afastadas. Bandeira de Mello também mencionou que a ANP está finalizando um trabalho que será apresentado até o final de 2025, e sugere a inclusão de solicitação de informações para os novos regulamentos.
Além disso, ele compartilhou que estão em diálogo com a Secretaria de Transição Energética e estão preocupados com a escassez de opções de abastecimento energético em áreas como o Amazonas, que conta com cerca de 200 municípios. Nesse cenário, são necessárias soluções híbridas com energias renováveis que possuam backups, sendo o GLP uma opção já presente nesse contexto.
O vice-presidente de Operações e Estratégia da Copa Energia, Pedro João Zahran Turqueto, aponta que o setor ainda enfrenta desafios para convencer de que o GLP é, de fato, uma fonte energética mais barata e eficiente.
“A mudança não virá da noite para o dia, será gradual, degrau a degrau. Convencer os agentes econômicos a trocarem seus equipamentos e demonstrar que o uso de energia é de fato mais econômico, representa um mercado a ser explorado. Isso reduz a preocupação em relação à oferta e demanda. Não pode ser o caso em que a demanda siga apenas o que já está disponível. Com a crescente procura, a infraestrutura será buscada, seja por importação ou produção nacional”, afirma Pedro Zahran.
Durante a participação remota do superintendente da ANP, Diego Valério, foram solicitados o aumento do prazo das licenças para as pesquisas, a viabilidade da utilização das novas estruturas para produção, e a revisão do calendário divulgado pela ANP a fim de estabelecer uma nova política para reduzir as restrições do GLP.
“O benefício do uso do GLP em outros setores é algo que concordamos e acompanhamos de perto, avaliando os resultados de diversos estudos e os impactos positivos que pode trazer para a sociedade em sua escolha. Nossa principal preocupação é com o abastecimento, e estamos empenhados em explorar esses aspectos para progredir ainda mais”, diz Diego Valério.